domingo, 25 de abril de 2010

Maktub - "estava escrito"

Com relação à crença árabe de que nosso destino já está traçado ao nascermos, não comungo desta opinião. Acredito que cada um de nós, à semelhança do DNA, possui uma equação vetorial, muitíssimo complexa e única  (como as papilas em nossa língua), que aponta para o cenário futuro (destino) mais provável, sempre em consonância com nossas escolhas/decisões (=livre arbítrio), tomadas a cada instante e que constituem as variáveis desta equação da vida.

Ser amorfo II

Posso ser extremamente lúcida ou completamente louca. É o líquido escorrendo de um recipiente para outro. Gostaria de ter alguém que me abraçasse e dissesse: "- Shhhhhhhh, está tudo bem, está tudo bem!" Eu ficaria ali, calma, amparada e minha mente poderia relaxar. Às vezes, o líquido respinga nas pessoas à sua volta e as transforma. Em geral, elas começam a agir de forma muito louca, como se tivessem sido jogadas para um lugar muito inóspito, onde elas não sabem como sobreviver e entram em pânico e ficam agressivas e maldizem o líquido, que até então lhes vinha saciando a sede. Talvez este líquido seja como um alucinógeno, que fornece "good and bad trips". O líquido fica muito surpreso com o efeito que causa e lhe vem uma dor, como se suas moléculas se contraíssem e se cristalizassem. Sim, este é o processo. O líquido se cristaliza e fica estático, sofrendo e observando a loucura à sua volta.

sábado, 24 de abril de 2010

Ser amorfo I

Não sei quem eu sou. Ou melhor, sei que sou um ser amorfo. É como se eu fosse um líquido que toma a forma do recipiente onde está. Só que o líquido não sente nada pela garrafa. Só deixa-se estar ali observando... Também não recebe nada, apenas a visão da satisfação do outro ao vê-lo ali tão decorativo. Daí, o líquido se pergunta: e se eu estivesse em outra garrafa, de formato e cor diferentes? Ou, se eu me esparramasse pelo chão, ainda seria amado? Então ele se expande e quebra a garrafa, esperando para ver se será recolhido com carinho. Mas não. Toda vez que isto acontece, todos se põem a gritar e amaldiçoar a bagunça que ele causou. Ele então se evapora, deixando uma mancha escura por onde passou.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Será?

Eu amei tanto mentalmente. Tantos sentimentos, ao longo da vida, lendo poemas e livros, vendo filmes e vida, que agora me encontro gasta de emoções. "O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente." Falam-me de amor e eu ouço incrédula estas balelas sentimentais. Estou gelada por dentro embora me sobre calor humano, compaixão pelo próximo. Mas amor? Não, neste eu não acredito. Amor é igual a amor-próprio. Vaidade incontida. Maldade! Arre, me deixem em paz!